15.5.13

JUSTIÇA, IGUALDADE E DIFERENÇAS



                      Em meu primeiro trabalho como colunista do blog Espaço Vesânico, proponho um tema que a alguns intriga e em outros gera apatia, pela falta de vontade de matutar a respeito. Mas tal apatia é, inevitável, e em certos níveis aceitável, contribuindo assim para estabilidade do sistema das relações sociais, assim como afirma J. Schumpeter a respeito da Teoria procedimental da Democracia.

            É dito que a justiça é um conceito relativo, variado de acordo com os Países, Estados, culturas, etc. No entanto, ao pensar tal questão, algo me vem em mente: quão relativo é o conceito de justiça no que se refere as relações sociais e a distribuição de renda? Impossibilitado então de, por meio de um simples texto, definir todas as complexas variantes do conceito de Justiça, levanto uma questão que, quem sabe, ainda não tenha sido analisada: Qual posicionamento seria mais justo: tratar todos os indivíduos de maneira igual, privando a todos e beneficiando a todos de forma igual, ou, tratar cada um da forma que merece? Merecimento tal, creditado a cada um mediante uma construção social que envolve a todos inseridos numa comunidade ou grupo social.
Ao abstrair sobre tal temática e, serem geradas sinapses que me permitem moldar e cristalizar as ideias, proponho chegar ao amago da questão apresentado uma pequena metáfora:

            Em uma “sociedade”, tribal constituída em sua maioria por nativos de estatura baixa e tranco largo, e a minoria de estatura alta e tronco estreito, escolhem um novo chefe, que ajudaria a guiar e decidir questões de toda a tribo. O novo chefe era sábio  Sempre que lhe traziam alguma questão complexa ele prontamente resolvia e sua imagem de líder era dia após dia elevada. Certa feita, um grupo de antropólogos inseriu-se na tribo para estuda-los. O chefe, com toda sua sabedoria permitiu, crendo que assim demostraria seu carisma aos visitantes e um bom coração a tribo. Juntamente com os antropólogos  vieram dois arquitetos. Estes, após alguns dias na tribo, viram a “necessidade” de serem construídas portas nas malocas dos nativos. Ao chegarem ao grande e sábio chefe, lhe apresentam a proposta. No entanto algo não estava de acordo. As portas, ou seriam altas e estreitas, ou baixas e largas. Visto que os nativos aderiam a ideia e pressionavam juntamente com os arquitetos, o chefe para que desse uma resposta, este viu-se preocupado.
            Qual seria a solução? O chefe não estava preparado para tal questão, no entanto ao meditar sobre ela, percebeu que a solução seria beneficiar alguns em detrimento de outros. Como os nativos altos eram os que possuíam maior prestigio na tribo, eles ficariam com as portas nas malocas, e os nativos baixos não receberiam o beneficio. Nesse meio tempo, os nativos baixos vieram reclamar os motivos do seu amado e venerado chefe e líder não os beneficiar também com as tais portas das malocas. O chefe disse que não seria possível pois não seria justo com os nativos de estatura alta se todos possuíssem portas largas e baixas. O nativo se posicionando disse que não seria justo para com os baixos não poderem entrar em casa pois suas portas não seriam largas para seus ombros. O chefe, viu que cometera um grave erro, não pensou no bem geral, mas no bem particular. Após dois dias meditando o chefe percebeu que a melhor solução seria, portas largas e baixas aos nativos baixos e largos, e portas altas e estreitas aos nativos altos e estreitos de ombros. De tal forma todos seriam beneficiados e ninguém entraria em atrito. Mantendo-se a boa visão que possuíam do chefe tribal.

            Nessa breve e simplista metáfora, percebe-se que o chefe, escolhido pela tribo poderia desde o principio ter optado por beneficiar a ambos os tipos de nativos, cada um da forma que mereciam ser. No entanto, como não havia até então a necessidade de pensar tal questão, não os via com estruturas diferentes, pois todos possuíam malocas similares, com grandes buracos na entrada.
            Beneficiar a todos os indivíduos de uma sociedade de forma igual é menos justo que compreender as necessidades particulares de cada um, e só assim então fornecer o beneficio. Muitos afirmam que a igualdade é permitir que todos tenham acesso de forma igual a objetos, serviços e benefícios iguais. No entanto, ao compreender o caso dos nativos na tribo, vemos que na sociedade que vivemos é da mesma forma. Existem indivíduos que possuem capacidade e necessidades diferentes uns dos outros, e estas devem ser levada em consideração sempre que for necessário beneficiar ou reter algum beneficio da sociedade, como um todo.
            Nós talvez sejamos os nativos altos e estreitos, e não nos conformaríamos com portas largas e baixas, ou vice-e-versa.
Concluo dizendo que, mais justo é tratar a todos de forma igual tratando cada um de forma diferente. Confuso? Talvez. Mas a verdadeira igualdade esta no compreender de forma igual as diferenças.


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