25.5.13

PERPETUUM MOBILE (MOTO-PERPÉTUO)

“Demasiado audacioso aquele que, pela primeira vez, rasgou os traiçoeiros mares em tão frágil embarcação;
viu a sua terra atrás de si e entregou a vida aos ventos inconstantes;
cortando as águas com uma rota incerta,
ousou confiar numa tábua precária,
desenhando-se uma tão ténue             
fronteira entre a vida e a morte.” (Medeia. Pag.57. COLEÇÃO AUTORES GREGOS E LATINOS: Serie textos, 2011. Sêneca, 4.AC/I.DC – 65.DC) 

   Nuvens! Tudo que vislumbro são nuvens; algumas azuis como o olhar da pequena que me espera em outras terras – amantes que se estimam asfixiam Cronos com a força que os músculos da vontade dispõem e rasgam o reino de Poseidon com a velocidade que a angustia proporciona – outras são rosas como o algodão doce que mamãe comprava nos parques de diversão que freqüentava na infância. Não sei porque os deixei de freqüentar! São divertidos, encantam; coisas de criança. Mas espere! Sou criança, de que modo não haveria de ser. Choro, sapateio – com pouca freqüência agora que pago aluguel, mas assim que assino o cheque corro para o quarto, tranco a porta e começo o show. Não há platéia, apenas eu e meus demônios. Continuo obcecado com as nuvens, como não haveria de ficar, são tão belas. Parecem macias, mas não são de comer. Que pena! Pé por pé vou me aproximando delas, a montanha é íngreme, mas já me habituei, olho para os lados; esquerda, direita; o piolet faz seu trabalho com louvor; uma gota de suor gélido escorre sobre a pele que cobre a face direita do aventureiro sem chupeta, aqui em cima é frio! Cheguei!
O bebê ressurgiu com saúde. Vitalidade que o faz despertar para um mundo entorpecido pela vitoria numérica dos idiotas. A esperança pela verdade se auto rejuvenesce, um futuro! Acredito no sono eterno, um infinito nada que nos alcançará, nada mais que um pleno repouso sobre a cama do tempo; fortuna lhe espera com os braços abertos, aconselho não a perder do horizonte.
Aqui do alto da montanha recordo os finais de semana passados ao som de Bee Gees. Saio do meu quarto, a casa é grande... Pequeno burguês? Pare com essa baboseira de luta histórica, os problemas do cotidiano são extremamente maiores que isso!...Corro pelo corredor que liga o quarto à sala principal, mãe e mana assistem televisão, passo por elas como um relâmpago, estou quase chegando, falta pouco; diminuo a velocidade ao passar pela sala de jantar, copa e cozinha chego à varanda transpirando abacaxi.  Círculos de fumaça desaparecem ao chocarem-se com o teto, o vento é gelado, isso não importa, pois estou agasalhado;  ordem de mãe;  desobedeça e verás jovem gafanhoto! Olhares se cruzam, ambos sabemos o que queremos, meu herói!...
Posso ver o cume de outras montanhas, não estou na mais alta, mas as arvores já não são visíveis. Fico a imaginar; dentre os pensamentos que surgem um se destaca, um homem, pensador, mestre; seu nome aparece como trovão, apaziguando o cotidiano, Zygmunt Bauman!
Seus passos são lentos, andar de homem velho, fisiologicamente defasado pela vida, mas como diria Sêneca, ao sábio nada falta. Não necessita de algo como premio. Aproxima-se da janela do escritório; um lugar limpo por livros, de Cervantes a Saramago, passando por Kafka e George Orwell; uma escrivaninha se destaca juntamente com a poltrona e a maquina de datilografar; fumaça circunda a boca da xícara com chá pela metade, ao lado maçã e bolachas aguardam o bote. O velho toma o chá, arranca um pedaço da maçã e após esfarelar três bolachas de uma só vez com suas mãos repletas de manchas pretas e rugas ondulares que dão forma a uma superfície repleta de obstáculos manda o pó ao pó. Encara a rua silenciosa, é final de semana, com o movimento nulo ouve-se a musica orquestrada pelo casal que namora na praça em frente, melodia construída a cada afago executado.
- Esqueça o destino: estar em movimento, e pular sobre os obstáculos ou afastá-los com um chute, é isso que da sabor a vida.* Rasgar a cortina, compreender a vida...Que significa isso?**
O velhote soltava as frases ao vazio do escritório, reciprocidade silenciosa era proporcionada pelos defuntos empoeirados. Isso não importava, continuava a ritual: um gole de chá, mordida na maça, encontro entre o pó da bolacha com o pó do individuo. O olhar continua atento, firme, profundo e afetuoso.
- Antes de agir, não há como ter certeza de que os erros não serão cometidos, assim como é impossível saber de antemão se, no fim do dia, teremos provado estar à altura das circunstâncias. O protesto não é a única atividade a que esta regra se aplica. Não há receitas para uma ação à prova de erros, totalmente confiável, “sucesso garantido ou seu dinheiro de volta”; quanto mais importantes forem as ações para nós e para os outros, mais incertos ou mais impossíveis de prever serão seus resultados. Ao contrário do que acontece quando você tenta abrir a embalagem da nova engenhoca da moda que acabou de comprar, as escolhas de vida não vêm com manual de instrução a seguir ponto a ponto. Viver é assumir riscos....*** Aceitar placidamente o mundo e colaborar com a acumulação de injustiças que contestamos com palavras também é uma escolha, tal qual o protesto e a resistência ativa que dirigimos contra as iniqüidades endêmicas que o mundo nos força a seguir de modo obediente. A vida só pode ser uma obra de arte se for uma vida humana, a vida de um ser humano, isto é, de um ser dotado de vontade e liberdade de escolha.****
Voltaire! Sim, ele percorre minha teia cerebral quando afirma que o homem não pode dar a si próprio nem sensações nem idéias, recebe tudo de fora; a dor e o prazer lhe vêm de fora, como sua existência. Gosto da idéia, embora acrescentaria a participação do interior que percorre o exterior ao término do processo tal como a transformação do gás carbônico em oxigênio pelas plantas ou do oxigênio a gás carbônico pelos animais. Ao longo do trajeto jogo todas as fixas que possuo no caráter, fator que nutri o destino com certa chama particular, um código de barras divino.
As nuvens definitivamente não são de algodão, mas que importa que sejam, elas estão ali contemplando a criação. Aqui do alto meu coração dispara, fico feliz em ter como grande mestre o homem que vislumbrei em seu escritório mofado, lá ele se despedia do dia, aqui eu começo a me despedir das nuvens, é necessário descer. Antes um ultimo suspiro, fôlego que a vida proporciona e que deve ser agarrada com total zelo. Tolos são os homens que não sabem saborear um prato refinado de comida...
A mesa estava posta, já era madrugada, acho que o ponteiro das horas riscava o numero três. A conversa fora longa, a comida em cima de mesa continuava a ser degustada, bebidas umedeciam a boca e uma boa brisa socava nossa cara; cachorros latiam ao fundo. Vizinhos podem ser insuportáveis quando deixam seus cachorros dançarem tango no quintal dos fundos, mas desta vez era diferente, os latidos eram belos, creio que uma grande virtude se esconde atrás das circunstancias mais inesperadas da vida. Agora descendo a montanha vejo uma cama de hospital, cabelos brancos está sentado em cima dela, respira com dificuldade, seu olhar se esvai ao longe.
- Vivemos em um mundo de tolos que nos destrói...
Sua fraca voz, muito ofegante, prosseguia dizendo:
- Como é grande meu amor por você...
Agora choro. Não acredito em metafísica, embora seja um leigo cósmico, mas confio nessa peculiaridade chamada amor.
O velhote mais uma vez surge como uma nuvem muito clara que se põe sobre a montanha. Sentado em sua poltrona cor de rubi, observa seus empoeirados livros enquanto bafora bolas de fumaça após algumas cachimbadas, não se abstém, dizendo em voz alta para eles:
- Eu acredito – e não vejo uma razão valida para rever essa crença – que é possível um mundo diferente e de alguma forma melhor do que o temos agora. Então, talvez eu pertença à terceira categoria – não sou nem otimista nem pessimista – que se mantém fora da querelle de famille; a categoria dos homens com esperança.*****
Estou no chão, daqui vejo a montanha grandiosa com todas as suas pedras, hora pontiagudas, hora lisas, subirem às nuvens; o sol irradia sua ultima brasa, não haverá outro dia como esse. Aqui do chão muito já me disseram sobre os homens e suas crenças; bando de hipócritas sem tino de sensatez. Considero o velhote um grande pai intelectual, primeiro de poucos que virão; uns dizem que ele pode ser considerado um “pensador para mulherzinhas”; para esses, recomendo deixar a bíblia dos ressentidos de lado e buscar nos medievos a honra que vos falta; há também aqueles que o consideram “auto-ajuda para donas de casa”; aconselho chorar de vez em quando debaixo do chuveiro com a água bem quente para destruir sua carga simbólica, fará mal à pele e bem ao espírito.
Quando conheci o velhote era um simples garoto perdido no tempo e nas idéias, agradeço imensamente por ter guiado meus pés para a montanha; mas em breve farei 18 anos e como consta em nossa constituição serei adulto. Maduro? Um homem de facto? Não, definitivamente ainda não. Guardarei seus ensinamentos na memória e tal ato por si só bastará. Grato velhote!
Meu querido cabelos brancos, a você mais que minha gratidão, meu amor incondicional e eterno; o nada que segue à frente entoara nossa prosa musicada e nossas reuniões semanais ficaram na memória da eternidade cósmica, um eterno nada que retumba algo que pode vir  a ser coisa, uma hipótese claro, mas configura-se em hipótese viva.
Com todo zelo que possuo pelo conhecimento faço da sentença de Nietzsche minhas palavras destinada aos parasitas que habitam e destroem vorazmente a tentativa reflexiva de meu tempo

“não levo em nenhuma consideração os eruditos contemporâneos e dou assim a impressão de contá-los no numero das coisas indiferentes. Mas se se quiser refletir tranquilamente sobre coisas sérias, não se deve ser incomodado por um espetáculo repugnante. Neste momento volto, contra minha vontade, os olhos para eles para lhes dizer que não me são indiferentes, mas que gostaria de bom grado que o fossem para mim.” (O Livro do Filosofo, Pág.65. NIETZSCHE)

         Estou em casa e uma tremenda vontade de dormir me domina; já é sábado; meu corpo desfalece e assim como os Argonautas enfrentaram os mares, enfrento as paredes do meu quarto. Uma breve recordação prediz um lindo sentimento, aguardemos seu despontar nas redondezas do coração; não somos pedras fixas para deixar de amar. Assim os sentimentos tornam-se prelúdios de simples gestos atemporais. Viva meu filho; apenas viva para a vida que ainda não te descobriu. As palavras servirão de adorno para seus lamentos, conforto às tumultuadas paixões e luz sobre inevitáveis contradições existenciais. Hoje sonharei com astros e nada mais.

Notas
1. Fragmento retirado do livro “Isto não é um diário”. Pág.08. Bauman, Zygmunt.
2. Fragmento retirado do livro “Isto não é um diário”. Pág. 64. Bauman, Zygmunt.
3. Fragmento retirado do livro “44 cartas do mundo liquido moderno”. Pág. 214. Bauman, Zygmunt.
4. Fragmento retirado do livro “44 cartas do mundo liquido moderno”. Pág. 215. Bauman, Zygmunt.
5. Fragmento retirado do livro “Capitalismo Parasitário”. Pág. 87-88. Bauman, Zygmunt.





  

23.5.13

D.....EU....S




Nota do Autor:

O texto "D...EU..S" faz parte de uma série de textos que postarei com o debate sobre a filosofia de Deus, o interesse aqui, não é gerar polêmicas sobre religião, e sim, apenas ocasionar um pensamento critico sobre as questões, o que, afinal é o intuito do blog. Contudo, opiniões são bem vindas, caro leitor, convidamos a postar um comentário com vosso entendimento. Boa leitura.


D...EU...S*

Durante milênios os seres humanos buscam um significado maior a sua "existência", contudo é relevante considerar a variável, quando o ser humano começou a acreditar em Deus?. Responder a esta pergunta seria um grande passo para encontrar a resposta de outro questionamento "o que é Deus?". Cogita-se a hipótese de que Deus exista ou não, assim como acreditamos em ritos transcendentais de eras de culturas anteriores a nossa, talvez seja o colapso cultural que vivemos atualmente que nos coloque em dúvida quanto a tudo o que acreditamos e no que nos foi feito acreditar.

Afinal, você acredita em Deus por que você acredita ou porque você simplesmente teme não acreditar nele? Um novo paradigma nasce quando consideramos a hipótese de um criador universal, entretanto considerar tal pensamente é deixar de lado anos de ciência e explicações racionais que tanto levou a evolução dos nossos métodos científicos. Enfim, dizer que Deus existe é uma premissa que não se pode provar, contudo esbarramos em uma contradição, pois também não se pode provar que ele não existe. Assim como também somos induzidos ao mesmo empecilho quando a questão é, ET'S existem? 

Quando o homo sapiens começou a tomar consciência de sua existência passou a deixar seus primeiros traços de cultura nesse mundo. Podemos dizer então, que foi nesse período que eles começaram a dizer que Deus os havia criado. Necessidade de auto afirmação? Explicação de algo que não se pode explicar? finalmente não se sabe o motivo de surgir Deus. Pelo menos o Deus que conhecemos agora não surgiu do nada, a filosofia monoteísta surgiu após várias épocas de politeísmos arbitrários, divindades ligadas a elementos e animais. Agora o que levou a um monte de deuses se tornar simplesmente Deus, onisciente e onipotente também é algo inexplicável.

Por que acreditamos em algo que não podemos provar? Volto a dizer, acreditamos por medo ou por fé? Você tem fé por que tem fé, ou por que tem medo? Pois acreditar em Deus por medo, de nada adianta, você está apenas se contradizendo. Contudo uma consciência superior que governe nosso destino parece algo muito mais fácil de aceitar do que nos culpar pelos nossos próprios atos. Afinal como coincidir livre arbítrio e destino? como coincidir deuses e Deus? Por anos buscamos as respostas para tais perguntas sem nunca chegar a uma conclusão, talvez só no final dos tempos, só quando morrermos iremos descobrir as tais respostas que tanto almejamos, a questão é, estamos prontos para as respostas? Será que aguentamos as respostas que procuramos? Vamos torcer para que sim!

p.almeida

*(Acredito não se fazer necessário explicar o trocadilho com o titulo do texto)

15.5.13

JUSTIÇA, IGUALDADE E DIFERENÇAS



                      Em meu primeiro trabalho como colunista do blog Espaço Vesânico, proponho um tema que a alguns intriga e em outros gera apatia, pela falta de vontade de matutar a respeito. Mas tal apatia é, inevitável, e em certos níveis aceitável, contribuindo assim para estabilidade do sistema das relações sociais, assim como afirma J. Schumpeter a respeito da Teoria procedimental da Democracia.

            É dito que a justiça é um conceito relativo, variado de acordo com os Países, Estados, culturas, etc. No entanto, ao pensar tal questão, algo me vem em mente: quão relativo é o conceito de justiça no que se refere as relações sociais e a distribuição de renda? Impossibilitado então de, por meio de um simples texto, definir todas as complexas variantes do conceito de Justiça, levanto uma questão que, quem sabe, ainda não tenha sido analisada: Qual posicionamento seria mais justo: tratar todos os indivíduos de maneira igual, privando a todos e beneficiando a todos de forma igual, ou, tratar cada um da forma que merece? Merecimento tal, creditado a cada um mediante uma construção social que envolve a todos inseridos numa comunidade ou grupo social.
Ao abstrair sobre tal temática e, serem geradas sinapses que me permitem moldar e cristalizar as ideias, proponho chegar ao amago da questão apresentado uma pequena metáfora:

            Em uma “sociedade”, tribal constituída em sua maioria por nativos de estatura baixa e tranco largo, e a minoria de estatura alta e tronco estreito, escolhem um novo chefe, que ajudaria a guiar e decidir questões de toda a tribo. O novo chefe era sábio  Sempre que lhe traziam alguma questão complexa ele prontamente resolvia e sua imagem de líder era dia após dia elevada. Certa feita, um grupo de antropólogos inseriu-se na tribo para estuda-los. O chefe, com toda sua sabedoria permitiu, crendo que assim demostraria seu carisma aos visitantes e um bom coração a tribo. Juntamente com os antropólogos  vieram dois arquitetos. Estes, após alguns dias na tribo, viram a “necessidade” de serem construídas portas nas malocas dos nativos. Ao chegarem ao grande e sábio chefe, lhe apresentam a proposta. No entanto algo não estava de acordo. As portas, ou seriam altas e estreitas, ou baixas e largas. Visto que os nativos aderiam a ideia e pressionavam juntamente com os arquitetos, o chefe para que desse uma resposta, este viu-se preocupado.
            Qual seria a solução? O chefe não estava preparado para tal questão, no entanto ao meditar sobre ela, percebeu que a solução seria beneficiar alguns em detrimento de outros. Como os nativos altos eram os que possuíam maior prestigio na tribo, eles ficariam com as portas nas malocas, e os nativos baixos não receberiam o beneficio. Nesse meio tempo, os nativos baixos vieram reclamar os motivos do seu amado e venerado chefe e líder não os beneficiar também com as tais portas das malocas. O chefe disse que não seria possível pois não seria justo com os nativos de estatura alta se todos possuíssem portas largas e baixas. O nativo se posicionando disse que não seria justo para com os baixos não poderem entrar em casa pois suas portas não seriam largas para seus ombros. O chefe, viu que cometera um grave erro, não pensou no bem geral, mas no bem particular. Após dois dias meditando o chefe percebeu que a melhor solução seria, portas largas e baixas aos nativos baixos e largos, e portas altas e estreitas aos nativos altos e estreitos de ombros. De tal forma todos seriam beneficiados e ninguém entraria em atrito. Mantendo-se a boa visão que possuíam do chefe tribal.

            Nessa breve e simplista metáfora, percebe-se que o chefe, escolhido pela tribo poderia desde o principio ter optado por beneficiar a ambos os tipos de nativos, cada um da forma que mereciam ser. No entanto, como não havia até então a necessidade de pensar tal questão, não os via com estruturas diferentes, pois todos possuíam malocas similares, com grandes buracos na entrada.
            Beneficiar a todos os indivíduos de uma sociedade de forma igual é menos justo que compreender as necessidades particulares de cada um, e só assim então fornecer o beneficio. Muitos afirmam que a igualdade é permitir que todos tenham acesso de forma igual a objetos, serviços e benefícios iguais. No entanto, ao compreender o caso dos nativos na tribo, vemos que na sociedade que vivemos é da mesma forma. Existem indivíduos que possuem capacidade e necessidades diferentes uns dos outros, e estas devem ser levada em consideração sempre que for necessário beneficiar ou reter algum beneficio da sociedade, como um todo.
            Nós talvez sejamos os nativos altos e estreitos, e não nos conformaríamos com portas largas e baixas, ou vice-e-versa.
Concluo dizendo que, mais justo é tratar a todos de forma igual tratando cada um de forma diferente. Confuso? Talvez. Mas a verdadeira igualdade esta no compreender de forma igual as diferenças.


MEU NOME É HANNA


Quadros de Chico Buarque, Rita Lee, Jhonny Depp fazem parceria com o pôster de Che Guevara na missão de enfeitar as paredes recentemente pintadas nas cores amarelo e cinza. O espaço é pequeno, uma cama de solteiro ocupa a metade do território, a outra metade é preenchida por um guarda roupa branco recém adquirido, uma escrivaninha caramelo finda a ordenação. O rangido da porta inicia-se. Entra, senta, olha para o livro deitado sobre o notebook, “Como sobreviver em um mundo brega: dicas de saúde, lazer, moda e relacionamento”. Suas mãos abraçam o livro, colocando-o no cume da pequena montanha de papeis no canto direito da mesa. Liga o notebook, fone de ouvido ativado, olhos atentos. A tela brilha! Um link casual nas atualizações do  facebook  chama  atenção, acessa, o nome do site é Espaço Vesânico, um artigo lhe causa curiosidade, começa a leitura em voz sussurrada...
“Noites Brancas, esse nome remete meu gosto intelectual a um conto de Fiódor Dostoiévski; homem trágico, repleto de vícios, mas sedento por compreensão, ele se faz esbaforido no meio de tanta maldição. Ao definir a vontade proporcionada pelo gozo através da sublimação - Meu Deus! Um momento de felicidade! Sim! Não será isso o bastante para preencher a vida? Faz o russo definir a condição de amar e ser amado.
Se amor é uma das condições existências que fazem o humano pulsar em meio a tanta calamidade existencial, a recusa de tal sentimento torna-se algo completamente inverossímil. Pertencemos a uma geração que recusa fomentar sentimentos cancerígenos? Conjecturamos-nos da mesma forma que o herói de Robert Musil, Ulrich, é construído no romance ‘O homem sem qualidades’? Seriamos então ‘O homem sem coragem’?
Considero você e sua turma do pátio ginasial um bando de frouxos, sedentos por prazer, mas incapazes de se arriscar na mais dolorosa missão em ventura da beleza. Confesso que me considero uma mescla do jovem sonhador do conto já citado de Dostoiévski com Don Juan, protagonista blasfemo da obra de Molière; ainda faço parte do bando de frouxos. Culpa? O que seria de nós sem ela!
No conto encontramos um rapaz tímido, que raramente obteve contato com pessoas (acesso nulo às mulheres), deixando-o completamente improdutivo na área de se relacionar, mas isso não o impossibilitou amar; ao encontrar a jovem donzela Nástienhka o câncer aparece. Sintoma chamado amor, que fere, cicatriza, mata e ressuscita quem eleva tal sentimento ao mais alto pedestal da nobreza. O conto nos faz perceber ao âmbito do amor quanto tal manifestação nos custa caro e ao mesmo tempo proporciona o minuto de felicidade que nossa insuficiência cósmica sempre buscou. Todavia a obra de Molière expõe a velocidade que destrói os vínculos, através de Don Juan, enamorado compulsivo do gozo pelo gozo, não agregando responsabilidade aos atos desenvolvidos por sua personalidade surda às censuras de outrem. A defesa que Don Juan faz de suas ações remete à defesa contemporânea de um mundo reticente a relacionamentos

'Você pretende que uma pessoa se ligue definitivamente a um só objeto de paixão, como se fosse o único existente? Depois disso renunciar ao mundo, ficar cego para todas as outras formosuras? Bela coisa, sem dúvida, uma pessoa em plena juventude enterrar-se para sempre na cova de uma sedução, morto para todas as belezas do mundo em forma de mulher. Tudo em nome de uma honra artificial que chamam fidelidade? Ser fiel é ridículo, tolo, só serve aos medíocres. Todas as belas têm direito a um instante de nosso encantamento.' (Don Juan, pagina.05. Tradução e Adaptação: Millôr Fernandes).

Neste ambiente a obra do sociólogo polonês Zygmunt Bauman nos traz um diagnostico cirúrgico sobre a condição dos vínculos na Modernidade Liquida. Bauman faz analogia entre os relacionamentos e os produtos do mercado consumidor, ambos tendem a ser cada vez mais desprovidos de valor, comprometimento e tradição; cria-se uma condição de objeto descartável, pronto para a lixeira, prateleiras contaminadas pelo desejo tendo a morte como ferramenta inerente.

‘Se o desejo quer consumir, o amor quer possuir’ (Amor Liquido, pagina. 24. BAUMAN)

Creio que Søren Kierkegaard estava repleto de razão ao afirmar durante todo o livro ‘O Matrimonio’ que o amor é maior aos simplórios e infantis finais das histórias românticas, todos que amam o sabem por certo, amar não nos leva a um final de felicidade plena, tal como o grego Aristóteles nos disse em ‘ Ética a Nicómaco’; uma só andorinha não faz a Primavera, nem um só dia formoso; e não pode tão-pouco dizer-se que um só dia de felicidade, nem mesmo uma temporada, bastam para fazer um homem ditoso e afortunado. A vida deve ser calcada por inteira, para isso é necessário comprometimento com o outro, a espera pode ser de fundamental importância ao combate contra uma vida canalha ornamentada por episódios vazios.

‘por que é o selo da eternidade o que distingue o amor da voluptuosidade.’ (O Matrimonio, pagina.18. KIERKEGAARD)

Amar pode significar diversas possibilidades epistemológicas em um mundo, ao meu ver, atormentado e impossibilitado pelo relativismo. Gosto do amor heróico , amor que destrói a alma, ferindo com toda posse que reciprocamente é demandada, medicando com a grande sensibilidade que é ofertada. Uma cena que traz a tona o que explano é o clímax do filme ‘A vida secreta das palavras’, da diretora Isabel Coixet. Quando a meiga e aguerrida enfermeira Hanna interpretada por Sarah Polley conta a seu paciente Josef, interpretado por Tim Robbins, os horrores físicos e psicológicos que sofreu durante a guerra dos Bálcãs – eles se conhecem quando, ao tirar férias, Hanna decidi trabalhar como enfermeira em uma plataforma petrolífera, exercendo a tarefa de zelar pela saúde de Josef, que sofre graves queimaduras ao tentar salvar a vida do melhor amigo. Ao longo da história descobrimos que Josef estava tendo relações intimas com a mulher do amigo, depois de contar o fato ao traído, este resolve cometer suicídio no momento que uma bolsa de gás explode durante o trabalho de perfuração, Josef tenta salva-lo, não consegue, o marido morre e o amante fica temporariamente cego, alem de sofrer graves queimaduras por todo o corpo. Ambos estão envoltos sobre uma nuvem de tragédia, mas como dito por Dostoiévski, ao sermos infelizes ficamos mais aptos a compreender o sofrimento alheio; a nossa sensibilidade, assim, não se degrada, mas, pelo contrário, condensa-se e acumula-se.
 Condensados pelas maculas que a vida lhes golpeou o amor nasce, a responsabilidade reina de forma soberana. O afeto se faz na escuridão que o silêncio proporciona, refutando qualquer possibilidade de superficialidade promovida em um mundo que se contenta com o vácuo.”
Fim do artigo, o dedo indicador sobre o mouse clica no botão esquerdo, a página fecha, o facebook permanece em estado online, as janelas de bate-papo latejam por atenção, as atualizações aumentam com o avanço dos segundos. Instantaneidade! Frivolidade! No peito do ser que olha para a tela cresce um vazio descomunal rodeado pelo desejo insaciável da novidade, a voz joga ao vento gélido de uma noite invernal um nome que amedronta os convalescidos do jardim da desonra:
- Hamlet...

                                                                                        

LISTA, 10 ABERTURAS CLÁSSICAS DE DESENHOS

A moda agora virou fazer lista de tudo não é mesmo? Então, hoje a sessão nostalgia está garantida no Espaço Vesânico!




Todo mundo merece um momento de nostalgia não é mesmo? Bom, com os homens de terno verde não é diferente, por isso hoje resolvemos fazer um especial com a abertura de desenhos clássicos que com toda a certeza vai fazer muita gente relembrar a infância que valeu a pena, quem tiver alguma dica de outro desenho basta postar um comentário que postaremos também.



1° DRAGON BALL


Sem comentários para essa né? Vamos conquistar as esferas do dragão (rolou uma lágrima)







2° DRAGON BALL Z


Quem não lembra do famoso CHÁ-LÁ, eu pelo menos canto isso até hoje!





3° DRAGON BALL Z - SEGUNDA FASE 


Quando escutava essa música já gelava o coração imaginando o majin boo!




4° POKEMON


Essa era de quando o desenho ainda era bom (pegá-los eu tentarei!!!!)




5° DIGIMON


DIGIMON, DIGITAIS, DIGIMOS SÃO CAMPEÕES (A ANGÉLICA MANDOU BEM NESSA)




6° YU YU HAKUSHO


Essa é para os fortes




7° OS CAVALEIROS DO ZODIACO

Já estou vendo você se arrepiando com essa




8° POWER RANGERS


Não adianta fingir que você não via isso!!!



9° DOUG FUNNY

Tem gente que assovia assim até hoje




10° YU-GI-OH


Não é tão antigo, mas é clássico




Bom galera, é isso ai!

Quem tiver alguma opinião basta postar um comentário que prepararemos uma nova lista, a classificação de 1 a 10 é meramente uma ordem, não colocamos em ordem de melhor ou pior.

Até mais, e boa nostalgia para vocês!


14.5.13

A MITOLOGIA DA FÊNIX


A  mudança é a lei da vida. Mais importante talvez que a mudança, seja, a evolução. No sentido da palavra, compreende-se evolução, como um estágio melhor do que o anterior. Mudar e evoluir, são duas coisas que compreendem dificuldades, pois, sendo fácil, entende-se que qualquer um pode fazê-lo.

No principio, eramos organismos unicelulares, o processo evolutivo e da mutação, nos presenteou com o que somos hoje, seres pluricelulares dotados de conhecimento e habilidades. Quem, ou o que, nunca passou por mudanças? Sendo elas, físicas, mentais, ou de qualquer natureza.

Para ilustrar a mudança, nada melhor do que um ser muito presente na mitologia, a Fênix.

Desde o surgimento da lenda dos Homens de Terno Verde, a Fênix, estava presente na construção da nossa mitologia. A evolução foi algo constante em nossa vida, e assim sendo, continua sendo até hoje, não somente no espaço que apresentamos ao internauta, mas contudo, e principalmente, nas nossas vidas.

Tudo começa com uma ideia, depois, após muito empenho a ideia vira prática, contudo, se não fosse as superações diárias os planos morrem ainda no primeiro empecilho.

A Fênix é sem dúvida, um dos seres mais majestosos do universo fantasioso, tal criatura é dotada da incrível capacidade de viver durante séculos, contudo quando já velha ou enferma, ela possui a característica de se inflamar, e das suas cinzas, renascer, ainda mais forte do que antes.

Assim como a Fênix, nós seres humanos devemos estar sempre dispostos a nos permitir ressurgir, destruir a versão anterior, e então das cinzas, dar espaço para emergir algo mais belo e forte.

Acredito, que agora, nossos leitores e visitantes, antigos e novos, entenderão a referencia a Fênix em nosso blog, para aqueles que já estavam nos acompanhando desde o inicio, saberá melhor do que ninguém as evoluções que apresentamos, e acreditem, se essa será ou não a versão definitiva, é incerto, mas se fazer-se necessário, evoluiremos novamente.





5.5.13

BEM-VINDO ÀS RUÍNAS



Fracassados que perambulam por um mundo sem sentido, certa vontade os impulsiona a desenvolver códigos morais, tecnologias, existência, fazendo o nada ser coisa e a coisa sublimar no vazio.
Sou um mero aluno de graduação, “mero” por ser aluno, mas qual ser humano deixara este posto em vida? Qual animal humano se fará maior que a mortalidade atroz e inerente aos ratos, cachorros, galinhas e pulgas? Um lamento corre sobre a tempestade elétrica do universo cerebral ao imaginar que todos somos iguais em âmbito cru. Perceber que o próprio universo não passa de uma coisa tão mortal quando nós - ele acaba, mas antes de terminar ele te engole como um leão a sua espera no centro da savana africana - torna-se assustador aos covardes!
Assim como os demais “homens de terno verde” que constroem o conhecimento deste blog, sou homem Bravo! Ser que vive pelo prazer que a compreensão proporciona. Mal-Estar permanente às situações idiotas. Tentarei com o pouco que sei e com o muito que aprenderei esboçar comentários agradáveis ou não, pois não pretendo conquistar seu amor, mas refletir sobre seus demônios.
Afinal
“quem é que sabe o que é melhor para o homem durante sua existência, nos muitos dias de sua vã existência, que ele atravessa como uma sombra?” Eclesiastes, 6;12
Não sou um amante da academia, se o fosse, deliraria de prazer em cada ato sacana que teríamos ao longo das noites embaladas por posições eróticas no motel do conhecimento. Mas não entro em êxtase, apenas brocho. Estou para a academia como Simão, noivo asmático, está para Malvina, no conto "O homem fiel" de Nelson Rodrigues. Quero distancia! Espero respirar! Aqui é um bom lugar de repouso. Broncodilatadores! Proporcionando desejos e liberdade.
Observando os intelectuais orgânicos, como denominado por Gramsci, vejo tanta preguiça para esboçar vida criativa em meio a burocracia universitária, talvez o italiano seja um dos culpados, embora acredite que o principal culpado seja você, executor de tais ações, ao pensar, grosso modo, que a intelectualidade e revolução andam grudadas e por isso são unas e indissociáveis. Acredito em mudanças, pois a práxis é tudo que nos resta do pó que somos, mas tenho alergia a grandes transformações, acho que elas atrapalham o cotidiano, solapam a liberdade individual e destroem o coletivo moral, vide Revolução Francesa. Lembro estar lendo Nelson Rodrigues e ser dominado pelo encanto ao compreender que, nunca se pediu um soneto a Bismarck, ou um romance a Roosevelt, ou um drama a Churchill.
Gosto quando Shakespeare nos chama de tolos. Reconhecer nossa insuficiência é a melhor maneira de sublimar no vazio e suspeito que a falta de sensibilidade atribuída aos grandes homens pelos dependentes de plantão, denota o brio confirmado pela certeza que os autônomos possuem de si e para o mundo que o circunda, um senso de reciprocidade do eu para o outro que volta a ser eu. Por outro lado deixa à tona a incapacidade que os parasitas possuem em se afirmar, fomentando a hipocrisia inerente de um estado de espírito plástico, revoltado e pífio. Entre o humano Bravo e o revolucionário, fico com o primeiro, espelho da coragem e percepção
Todo respeito deve ser dado à profissão do intelectual acadêmico, assim como do banqueiro, gerente de uma multinacional ou recepcionista de hotel, mas confesso que os olhos apenas lacrimejam ao vislumbrar espíritos-livres, humanos que fazem sorrir na tragédia, pois como disse certa feita o poeta romano Lucano: viver, como amar, é ser refém do destino. Convenhamos que a vida sentida sem hipocrisia parece uma mulher repleta de tesão e não há nada mais visceral que isso.
por: J. MACHADO